– A nova “Fantasy Island” é uma sequela da série original. Na época em que se emitia, ainda eras uma criança. Tens alguma recordação dela?
Sim, tenho algumas recordações. Eu nasci e cresci em Puerto Rico e, nos anos 70, era uma miúda, mas lembro-me bem dos meus pais a ver a série, e tenho muito presente a personagem de Tatoo a dizer: “O avião! O avião!”, e recordo-me de quando as pessoas chegavam à ilha onde havia mulheres a dançar como as havaianas. Lembro-me disso bem, claro. Quando me ligaram e me ofereceram a personagem da Elena Roarke, pus-me a estudar e a ver os episódios da série original para me recordar da premissa, a dinâmica, etc. Mas, quando se fala da Ilha da Fantasia, acho que o mundo inteiro conhece-a, toda a gente se lembra de Ricardo Montalbán e de Tatto.
– O Mr. Roarke era um ícone. Como é que te sentes ao continuar o legado dele?
Estou muito feliz. A experiência das filmagens da primeira temporada foi maravilhosa. Como é lógico, sentia-me com uma enorme responsabilidade, porque é uma série muito reconhecida e muito querida e, especialmente, por interpretar a personagem de Roarke, a nova anfitriã da ilha. Eu dizia: “OMG!, espero que as pessoas acolham a personagem da mesma maneira que acolheram Ricardo Montalbán e a sua interpretação”. Mas, além do senso de responsabilidade, foi uma imensa alegria saber que posso continuar o legado dele e que o tornaram mulher, e poder filmar na ilha onde cresci. Para mim foi uma experiência muito gratificante em todos os aspetos.
– Se tivesses a oportunidade de participar da história, qual é que seria a tua fantasia?
OMG! Deixa-me pensar… O sonho da minha vida e a razão pela qual eu vim para os EUA era fazer teatro musical. Sonhava com fazer Broadway, e fiz de tudo menos Broadway. É uma fantasia que eu sei que algum dia vou concretizar, porque eu digo sempre: “Eu não abandono este mundo do entretenimento até cumpri-la”. Mas já passaram mais de 25 anos e ainda não o fiz, portanto para mim a maior fantasia era ver-me num teatro de Broadway a cantar, dançar e a atuar.
– Nasceste e cresceste em Puerto Rico, onde a série foi filmada. Como é que foi esta experiência? Serviu de ajuda para a tua personagem?
Foi incrível. Conheço grande parte da equipa, desde que tinha 19 anos, porque comecei a gravar na televisão em Puerto Rico com essa idade, e alguns dos que trabalhavam comigo, trabalham também agora em Fantasy Island. Portanto, imagina, tantos anos depois, voltarmos a colaborar… Essas pessoas viram-me desde muito jovem, com o sonho de ser atriz, e fui-me embora de Puerto Rico numa boa altura da minha carreira para concretizar o meu sonho americano. Eles apreciam-me de um modo muito especial, porque acompanharam toda a minha trajetória. Além disso, a minha família (a minha mãe, o meu pai, o meu irmão, o meu sobrinho…) moram em Puerto Rico. Apesar de estar longe de casa – em Los Angeles – sinto-me como se estivesse no meu lar, porque me criei lá, e é lá que tenho toda a minha família. E no que diz respeito à economia de Puerto Rico, para lhe dar um exemplo, Fantasy dá emprego a quase 500 trabalhadores locais e está a ajudar muito a indústria do cinema, que se encontra em crescimento. Portanto, em todos os aspetos, para o turismo, a economia, e para muitos atores secundários, selecionados localmente foi incrível. E para eles, o facto de a personagem principal ser da ilha é muito importante.
– Como é que descreverias Elena Roarke e com que aspetos da sua personalidade é que te identificas?
A Elena é uma mulher muito complexa e é uma das coisas que mais gosto de poder interpretá-la. É uma mulher que nunca se sabe se está completamente feliz ou não. Ela adora o seu trabalho, sente que o legado da familia Roarke é muito importante, e muda as vidas para melhor, mas ao mesmo tempo é uma mulher que anseia ser normal, casar-se com o amor da sua vida e viver uma vida normal. O facto de ser a anfitriã, o anjo desta ilha, não lhe permite ser uma pessoa vulgar. Ela tem sempre essa incerteza e esse peso que não lhe deixa ser feliz a cem por cento. No transcurso da série, na primeira temporada, as pessoas vão-se aperceber de que ela acaba por aceitar que adora o seu trabalho. Mas é uma pessoa tridimensional, bastante complicada… Eu gosto de brincar com a possibilidade de que não se saiba se é humana, de carne e osso, ou se tem poderes mágicos. As pessoas têm sempre essa dúvida. Isto também aconteceu com Ricardo Montalbán, o Roarke original: não se sabia se era místico ou real. Adoro gerar confusão no público desta maneira. Mesmo se, nesta nova proposta, como é muito mais moderna, para lhe ser honesta, ela tem muita mais humanidade do que na original. As pessoas sabem mais sobre a sua história, há mais humor… Nesta segunda temporada, que vamos começar a filmar em Puerto Rico daqui a umas semanas, o estúdio quer muito humor na série porque as pessoas responderam bem a tudo o que era cómico, “feel good”, o que faz que uma pessoa se sinta bem, é bonito, por isso vamos explorar mais um bocado a comédia. E foi muito bom interpretá-la, na verdade. Em relação à pergunta de se ela é ou não parecida comigo, francamente não sei… Não é uma interpretação muito difícil para mim, como atriz. Quero dizer, é, porque ela é complexa, mas não há uma caraterização, ou ter de usar próteses ou mudar fisicamente, nem a voz, nem nada do género. É uma interpretação na qual eu quero fazê-la humana, digna, elegante, que as pessoas se identifiquem com ela e a queiram acompanhar.
– Grande parte da série foi filmada em exteriores. Foi mais complicado do que em estúdio? Tem alguma história para partilhar acerca disso?
Chove muito em Puerto Rico, é um país tropical. Pode vir uma trovoada num segundo e passados dois minutos aparecer um sol radiante, e uma pessoa diz: “Mas isto é um clima bipolar? Porque ainda agora choveu e já está um sol abrasador”. Portanto, os diretores e os produtores precisam de ter muita paciência, porque os elementos da natureza são imprevisíveis. E como filmamos muito – noventa por cento é na praia – em exteriores, imagine a quantidade de barulho com o que a equipa de som batalha, porque o que se ouve é muito vento e muitas ondas. Por isso, temos de dobrar muitas cenas após as filmagens. É necessário gravá-las em estúdio, e isto para um ator é muito tedioso. Mas não temos outra alternativa porque estamos a rodar. Uma parte do charme da série é o facto de filmarmos em exteriores. Logo, temos de sacrificar-nos um bocadinho e saber que após uma cena com uma interpretação extraordinária, talvez tenhamos de ir fazê-la novamente ao estúdio três semanas depois.
– Nesta ocasião, a protagonista é uma mulher e também uma parte importante da equipa. De que forma é que consideras que isto influiu no resultado?
Creio que a engrandeceu bastante. Para mim foi uma vitória o facto de que nesta nova proposta tivessem decidido que duas das personagens principais fossem mulheres, acho fabuloso. Foi uma aposta eles fizeram, e rezei para que corresse bem, porque nem toda a gente iria gostar de que a mudança fosse tão drástica. Mas, graças a Deus, a química com a Kiara Barnes, que é quem faz a personagem de Ruby, que seria neste caso Tatto, é muito bonita. Ela é uma rapariga muito nova, com uma energia e uma aura muito doce, muito limpa. É uma química muito bonita e as pessoas adoraram. E eu penso: “Que bom que eles tomaram esta decisão criativa de tornar estas personagens em mulheres”, porque considero que é muito relevante hoje em dia.
– Muitas pessoas sentem a necessidade de dar uma volta de 180 graus na vida. Consideras que a série nos pode ajudar a refletir sobre as mudanças de que precisamos?
Eu acho que sim. Além disso, como a primeira temporada já foi emitida nos EUA, muitas pessoas falam e comentam. É a magia das redes sociais: tudo se esclarece de forma instantânea. As pessoas deixam saber imediatamente aquilo que pensam, e o 99 por cento dos comentários são super positivos e muito bonitos, porque as pessoas riem e choram no mesmo episódio. E fala-se de certas questões, mesmo se de forma leviana, porque no fim de contas, esta é uma série “feel good”, para que as pessoas se sintam bem. Não é pesada, nem pretensiosa, é bastante leve, mas a mensagem é bastante potente. As pessoas vão para a ilha com um desejo ou aspiração, acham que querem algo, e a ilha mostra-lhes que o que precisam é uma coisa completamente diferente. Isto é, há sempre uma lição, umas vezes é positiva e outras vezes menos positiva, mas é necessária. E o que chama a atenção de muitas pessoas acerca da série é isso mesmo, porem-se no lugar dessa personagem e essa fantasia, e pensarem em como teriam reagido. A magia da ilha é que as pessoas se tornem melhores quando a abandonarem. Logo, a parte bonita de cada episódio é as pessoas aprenderem a ser melhores.
– Porque é que o público não pode perder esta série? O que é que podem esperar dela?
Porque hoje em dia, tal e como as coisas estão no mundo, com a pandemia, as nossas vidas ficaram viradas do avesso. Acende-se a televisão e no geral tudo é negativo. As notícias são coisas tão tediosas, que eu acho que os conteúdos positivos, elegantes, com imagens que são como se fossem uma lojas de doces, coloridas e bonitas, é o que as pessoas querem ver. Eu creio que é muito bom ver uma série complexa, de drama, terror… Adoro esses conteúdos como atriz, mas nos tempos que correm, mais ainda se uma pessoa for mãe, tiver filhos e quiser que eles tenham a oportunidade de ver algo leviano, que os faça rir, que os faça chorar, que os faça pensar…, acaba por ser como respirar ar belo. Por isso, acho que vale a pena que as pessoas lhe deem uma oportunidade.