O AXN apresenta em março de 2021, como é já tradição, o ciclo cinematográfico “Megafilmes”. A seleção deste primeiro mês de primavera oferece quatro sessões de cinema imperdíveis para os serões de fim de semana. Para ver, todos os domingos, às 21:55, de 7 a 28 de março.
Estas obras da 7ª arte têm em comum o facto de se tratarem de adaptações de outros conceitos originais – de uma longa investigação jornalística (“O Caso Spotlight”), de um jogo (“Need for Speed: o Filme”), de um filme argentino (“O Segredo dos Seus Olhos”) e ainda de um conto/ romance curto (“O Primeiro Encontro”).
Introduzimos estes “Megafilmes” para ver em março, e deixamos algumas curiosidades acerca do seu processo de adaptação:
O CASO SPOTLIGHT (2015) – exibe dia 7 de março às 21:55
“O Caso Spotlight”, biografia dramática lançada originalmente em 2015, é um filme baseado nas experiências verídicas de uma equipa de jornalismo de investigação – a Equipa “Spotlight” do jornal norte-americano Boston Globe. Foi já há vinte anos que esta equipa de jornalistas começou a investigar um polémico tema, explorando um caso de padres da Igreja Católica acusados de cometer abusos sexuais contra diversas crianças da comunidade.
Sabia-se que estes abusos aconteciam, contudo não se sabia quantos eram e esta equipa procurou chegar até às últimas consequências da verdade. A investigação conseguiu abalar, de forma drástica, as instituições da igreja a nível mundial e valeu a estes jornalistas um Prémio Pulitzer pelo seu serviço público. Na pele destes mandatários da verdade encontramos nomes célebres da representação como Mark Ruffalo, Michael Keaton ou Rachel McAdams, entre outros.
A longa-metragem foi nomeada a seis Óscares em 2016 e acabou por levar as estatuetas nas categorias de Melhor Filme e Melhor Argumento Original. Apesar do argumento do filme ter sido escrito de raiz, a história dos jornalistas nele representados é real e tinha já feito correr muita tinta.
Olhamos para algumas curiosidades acerca do processo de transposição das páginas do Boston Globe para o grande ecrã:
– Em declarações à publicação Creative Writing, os argumentistas oscarizados do filme revelaram que o mais importante neste projeto não era colocar a fé Católica em causa. Antes, o foco narrativo estaria nos processos do jornalismo de investigação. A ideia seria ilustrar o quão importante é ainda o jornalismo de investigação, apesar de se encontrar em falência a sala de redação no seio do mundo digital.
-O Jornal Boston Globe trabalhou muito de perto com a produção do filme, de forma a recriar com exatidão múltiplos aspectos tais como: guarda-roupa, caracterização de personagens, recriação dos escritórios ou equipamentos do jornal em 2001 (…).
– Os verdadeiros jornalistas interpretados na história visitaram as gravações regularmente. Por exemplo, o jornalista Michael Rezendes, interpretado por Mark Ruffalo, lia ao ator de forma frequente as falas em voz alta durante os intervalos das gravações para ajudar a situar a interpretação e a torná-la mais credível.
– Walter Robinson, editor do Boston Globe, trabalhou no cargo durante mais de trinta anos e foi uma peça fundamental para este caso. Walter afirmou que ver Michael Keaton a interpretá-lo no filme foi como “ver-se ao espelho, sem ter qualquer controlo sobre a sua imagem”. Michael Keaton procurou Robinson quando aceitou o papel e acabou por descobrir que viviam perto um do outro. Quando se viram pela primeira vez Keaton fez uma imitação tão próxima do jornalista que este exclamou: “Como é que sabes tudo sobre mim? Acabámos de nos conhecer”.
NEED FOR SPEED: O FILME (2014) – exibe dia 14 de março, às 21:55
“Need for Speed: O Filme” é a adaptação cinematográfica de uma das séries de videojogos de maior sucesso. Segue a história de Tobey Marshall (Aaron Paul), um excelente piloto de corridas que modifica carros para os tornar mais velozes. A vida de Tobey vê-se transformada quando é injustamente incriminado pela morte do seu amigo Pete.
Depois de sair da prisão, Tobey consegue recuperar o carro mais veloz que a sua oficina alguma vez construiu e participa numa corrida clandestina. Esta competição pode ser a chave para resolver todos os seus problemas, mas a vingança parece vir erradamente em primeiro lugar…
Vasculhámos algumas curiosidades acerca da tradução da história dos Videojogos ao Cinema:
– A Eletronic Arts tem vindo a desenvolver esta saga de jogos desde a primeira década dos anos 1990 e sentiu que estava na altura de transportar esta história, que sempre teve uma componente narrativa reduzida, para o grande ecrã. A empresa de jogos decidiu co-produzir esta adaptação do seu material original, de forma a tornar a linha narrativa mais complexa, tal como avançado pela publicação especializada IGN.
-O argumentista George Gatins, também em entrevista à IGN, referiu que um dos elementos mais importantes do jogo a considerar, na adaptação ao grande ecrã, foi as suas paisagens. As gravações do filme aconteceram um pouco por todo o território norte-americano – de Detroit a Utah, de Georgia a Alabama, de Mendocino a São Francisco. Era muito importante honrar o aspeto de “simulação” do jogo, dominado pelo escapismo das suas paisagens cénicas e pela ideia da condução de um carro que é uma miragem na vida real.
-Para a equipa criativa do filme foi essencial tornar a experiência da condução o mais real possível, de forma a honrar a sensação transmitida pelo jogo: carros reais, condução real, recurso a poucos efeitos especiais e ênfase no trabalho dos duplos e na sua experiência de condução muito real. Uma experiência capaz de colocar quem vê no local do condutor, tal como o jogo consegue.
– Muito foi alterado ao passar a história do pequeno para o grande ecrã. Contudo, vários foram os elementos evocados diretamente a partir dos jogos. Por exemplo, a corrida final foi retirada do videojogo “Need for Speed II”, de 1997.
– O nome deste filme, bem como de todo o franchise de videojogos, vem de uma deixa famosa da longa-metragem “Top Gun – Ases Indomáveis (1986)”, que contou com Tom Cruise como protagonista. Em “Top Gun” ouvia-se a fala mítica “I feel the need. The need for speed” (“Eu sinto uma necessidade. A necessidade de ser veloz”).
O SEGREDO DOS SEUS OLHOS (2015) – exibe dia 21 de março, às 21:55
Billy Ray (“The Last Tycoon”, “Verdade ou Mentira”) realizou e escreveu o argumento adaptado de “O Segredo Dos Seus Olhos”, assinalando este projeto a sua terceira experiência na cadeira da realização.
A obra protagonizada pelas estrelas Chiwetel Ejiofor, Nicole Kidman e Julia Roberts acompanha as vidas de Claire (Kidman), procuradora do Ministério Público, e de Ray (Ejiofor) e Jessica (Roberts), agentes do FBI. O que os une é a incessante busca por um homicida em série. Esta missão acaba por ter um preço elevado, a vida da filha de Jess, que é assassinada no decurso da investigação. O caso acaba arquivado, sem nunca se descobrir o culpado. Treze anos depois Ray encontra uma pista que pode levar à sua resolução. Estará a equipa pronta para as revelações que se seguem?
“O Segredo Dos Seus Olhos” é um remake do filme argentino “El secreto de sus ojos”, de 2009, realizado e co-escrito por Juan José Campella e vencedor, em 2010, do Óscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira.
Refletimos acerca de alguns dos aspectos referentes à adaptação desta narrativa:
– Embora os eventos-chave sigam uma linha narrativa semelhante, a maior diferença entre o filme argentino de 2009 e a longa-metragem norte-americana de 2015 é a época em que se desenrolam. O primeiro passa-se numa Argentina durante a ditadura militar (anos 70), o segundo passa-se nos Estados Unidos da América pós-11 de setembro.
– O realizador do filme argentino, Juan José Campanella, trabalhou como produtor executivo nesta nova versão.
– As idades dos intérpretes centrais sofreram alterações significativas: Chiwetel Ejiofor é 10 anos mais novo do que as suas co-protagonistas Julia Roberts e Nicole Kidman. No original, o protagonista era 12 anos mais velho que a sua co-protagonista feminina. Chiwetel é 20 anos mais novo do que Ricardo Darín, que representou o mesmo papel no filme original.
– Outra grande diferença nesta adaptação foi o papel desempenhado por Julia Roberts. A sua personagem era, na versão original, um homem. Contudo, o guião de Billy Ray acabou por introduzir mais tarde esta alteração.
O PRIMEIRO ENCONTRO – exibe dia 28 de março, às 21:55
Denis Villeneuve, mestre contemporâneo da ficção científica, responsável pela realização de “Blade Runner 2049” e do lançamento para breve “Duna”, realizou este inteligentíssimo “Arrival” (“O Primeiro Encontro”). Uma proposta distinta acerca da comunicação com formas de vida extraterrestres, o filme baseia-se no argumento adaptado de Eric Heisserer, nomeado ao Óscar e inspirado no conto “Stories of Your Life” de Ted Chiang.
Em “O Primeiro Contacto” a raça humana encontra-se ameaçada por uma invasão alienígena, à medida que estes forasteiros chegam à Terra e se fixam em vários pontos do globo. Para evitar ao máximo a escalada de um conflito armado, uma equipa de especialistas é reunida para descobrir as motivações destes visitantes. Louise Banks (Amy Adams), uma das mais conceituadas linguistas do mundo, é chamada para tentar estabelecer uma desafiante e arriscada comunicação pacífica com estes invasores.
Em colaboração com o matemático Ian Donnelly (Jeremy Renner) e o Coronel GT Weber (Forest Whitaker), Louise procura estabelecer uma nova linguagem, descodificável para ambas as espécies.
Deixamos algumas curiosidades acerca da adaptação desta história de Ted Chiang:
– O título original do filme era “Stories of Your Life” (“Histórias da Tua Vida”). A audiência-teste do primeiro visionamento não gostou do nome e por isso este foi alterado.
– Apesar de esta ser uma história adaptada a partir de um premiado conto, vencedor do Prémio sci-fi Nebula na categoria de “Melhor Novela” no ano 2000, o realizador Denis Villeneuve e o argumentista Eric Heisserer foram muito além da história base neste filme nomeado a 8 Óscares da Academia. A dupla criou, em conjunto com a sua equipa, uma linguagem “alien” totalmente funcional e fixou-a através de uma “bíblia dos logogramas”. Este manual é composto por mais de 100 símbolos linguísticos operacionais. Entre estes, 70 são exibidos no filme.
– O escritor do conto que deu origem ao filme aprovou inteiramente a obra. Chamou-lhe “quase um milagre”, tendo em conta o historial de adaptação de romances de ficção científica. Esta afirmação atesta a fidelidade à base literária, apesar dos inevitáveis ajustes. Por exemplo, no filme menos mas muito maiores cápsulas alienígenas chegaram ao Planeta Terra, se compararmos com o conto, para que o impacto visual e emocional fosse superior.
Quatro grandes obras cinematográficas, com origens muito distintas, para ver no AXN em março. Exibem todos os domingos, às 21:55.